É quase impossível assistir a uma apresentação sobre marketing, publicidade ou tecnologia e lá pelo terceiro slide alguém já não sacar uma preciosa conclusão a respeito de como se comporta a geração Y em relação à geração X. Os mais adiantados já falam até em geração Z.
Estariam essas interpretações acerca das gerações baseadas em rigorosos estudos e pesquisas ou seriam apenas os achismos tão comuns no superficialismo de nossa época de informações tuitadas?
O estudo das populações por corte de idade (ou coorte) inevitavelmente revisita o sociólogo húngaro Karl Mannheim (“O problema das gerações”) e suas investigações sobre a juventude. Daí que coortes são grupos de indivíduos que na passagem para a vida adulta viveram os mesmos fatos marcantes, assimilando então as mesmas características.
É mais ou menos isso que quer dizer alguém que fala que a geração Y é diferente da geração X, ponderando que entre os acadêmicos discute-se também que há uma fundamental diferença entre 'geração' e 'coorte'.
Em resumo, vejo nisso dois problemas. Um é o uso indiscriminado dessa forma de estratificação, sem se preocupar com os limites teóricos necessários e o rigor nas interpretações. O outro é que cada geração depende da cultura local, e por isso é inadequado tentar encontrar as gerações X ou Y fora dos Estados Unidos. Para começar, a geração anterior à X, nos Estados Unidos, foi a "baby boomer", chamada assim devido à explosão populacional que ocorreu logo após a Segunda Guerra. E essa explosão de nascimentos só foi vista em alguns países que se envolveram diretamente com a guerra.
Existem poucos trabalhos no Brasil que tentam seriamente avançar nessa discussão. Um dos mais conhecidos foi o realizado em 1999 por Monica Zaidan Rossi, Charles D. Schewe e Paulo César Motta, da PUC-RJ, de caracterização de coortes brasileiros. (Generational Marketing: Exploring Cohort Programmed Values and Their Implications on Cross-Cultural Variations in Consumer Behavior Between Brazil and United States, publicado na Revista Portuguesa de Marketing, em inglês).
Ana Akemi Ikeda e Beatriz de Castro Pereira resumiram em um artigo as bases teóricas para a segmentação de mercado com base em coortes (Segmentação por coortes como ferramenta de marketing), atualizando em um quadro a proposta dos pesquisadores da PUC-RJ para as gerações brasileiras.
E Wiliam Ramalho Feitosa, em um projeto de mestrado para a Universidade de São Paulo, apresentou há dois anos o mais completo levantamento a respeito desse assunto: A segmentação de mercado por meio de coortes e gerações.
Entre os muitos méritos desse trabalho destaca-se o capítulo em que Wiliam entrevista acadêmicos e profissionais de agências e empresas sobre o uso da segmentação por coortes no mercado brasileiro.